Cleonice Silva é casada, mãe da Isadora e do Miguel; e nos relata a força e a determinação de ser uma mãe atípica. Pedimos que ela relatasse os desafios da maternidade atípica; e na história dela nos faz perceber o quanto evoluímos como ser humano, quando deixamos o amor falar mais alto.
"Falar sobre maternidade é algo que me emociona muito.
Fui mãe a primeira vez aos 23 anos. Recebi em meu ventre [e depois nos braços] uma menina linda, forte, que desde então me surpreende com sua capacidade e atitudes; e que, muitas vezes, consigo me ver em seus gestos.
Aos 37 anos, recebi o Miguel. Sempre muito desejado, amado e esperado por mim e toda a família. Chegou de surpresa, sem avisar. Com 34 semanas tive descolamento total de placenta e nosso pequeno precisou ser tirado às pressas. Apesar disso, chegou forte, mostrando que tinha garra e coragem.
Com o passar dos meses [após muitas consultas, exames e avaliações de diversos médicos] tivemos o diagnóstico. Miguel tem paralisia cerebral, epilepsia e deficiência visual [decorrentes da lesão cerebral, em virtude da falta de oxigênio quando a placenta descolou].
A maternidade atípica é feita de fases. A primeira, sem dúvidas, é a mais difícil. Além do diagnóstico, a criança está em fase de adaptação com medicações; é encaminhada para muitas especialidades, algumas que eu nem conhecia; enfrentar todos os medos e desafios de um mundo até então desconhecido. As fases são vencidas, a partir do momento que você encara de frente a situação e junto do filho se propõe a viver um dia de cada vez.
Existem dias de choro, decepção, angústia e medo. Em compensação, há aqueles em que você sorri e agradece por tudo e está tudo bem. Aceitar as fraquezas e vivenciá-las faz parte do processo para ir para uma nova fase.
Neste caminho, encontro muitas pessoas que me ajudam a vencer essas fases, e sou grata a cada uma delas; quero contribuir sendo para outras pessoas um pouco do que foram para nós. É claro que encontramos quem não acrescenta em nada, porém são aprendizado também.
Houve um tempo em que eu não conseguia ver meu filho. A única coisa que eu conseguia enxergar era uma deficiência! Sim, mais difícil que aceitar o diagnóstico, é aceitar que o filho idealizado não existe. Infelizmente nossa cultura só evidência os ditos "perfeitos", "normais" e capazes de seguir os padrões da sociedade.
O que quero dizer mesmo é que eu vejo meu filho, aceito, respeito, e não vejo "defeito" que o impeça de viver; e muito menos que ele não se encaixe nos padrões. Eu admiro sua capacidade de sempre sorrir, de demonstrar e sentir amor de maneira pura e sincera. Vê-lo assim, transborda meu coração de alegria e gratidão.
Meus filhos são razão de tudo o que sou e faço. Descobri com o Miguel [e os desafios que juntos enfrentamos] que nem eu mesmo conheço tudo o que sou capaz de enfrentar e fazer por eles.
Sou feliz com os filhos que Deus me deu, pois sou amada e os amo exatamente como são; com suas particularidades, limitações e o respeito, pois são perfeitos do jeito que são."
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