O meu pulmão foi 100% acometido com a covid-19

Para saber mais sobre o projeto, acesse o link no final do depoimento

Crédito: Rayza Brito

Crédito: Rayza Brito

Natalina Severgnini é casada; mãe de dois filhos lindos; gosta de cuidar da sua casa e da sua família; e ama o seu trabalho como educadora. Neste ano de 2021, essa mulher [tão doce, meiga e amável] nos deu uma lição de vida.

A vida é realmente uma dádiva. E, quando nos deparamos com situações que nos fazem refletir sobre o verdadeiro sentido de estarmos aqui, nos sentimos honrados.

Natalina positivou para a COVID-19 e chegou a ter 100% do seu pulmão comprometido, estando entre a vida e a morte. Convidamos ela para que nos relatasse sobre essa sua experiência:

"Um dos meus maiores medos foi quando a minha filha positivou. Pois [aliado ao medo de perdê-la] tive uma grande insegurança, achando estar contaminada e ter passado o vírus a outros; isso porque, no dia anterior, tive contato com os colegas de trabalho. A primeira atitude tomada foi avisar todas as pessoas que tiveram contato conosco.

Dois dias depois do resultado positivo da minha filha, meu filho e eu fizemos o exame. Ele positivou e o meu teste deu negativo. Dias depois, senti-me como se estivesse com rinite e muitas dores nas costas. Então fui novamente fazer o exame e, no dia 1º de março deste ano, positivei. Fui consultar e o médico me orientou, medicando-me e já explicou que, se viesse a piorar, era para retornar imediatamente ao hospital.

Após dois dias, começou a me dar calafrios e febre. Liguei para meu médico e fiquei em observação o dia todo tomando medicamento e soro no hospital; e, ao final da tarde, retornei para casa.

Na semana posterior, novamente fiquei ruim, retornando ao hospital, onde permaneci em observação o dia todo. Chegando em casa, neste mesmo dia, comecei a me sentir mais indisposta e com falta de ar, quando então minha filha olhou a minha oxigenação e constatou que estava muito baixa, ligando novamente para o médico e ele mandou retornar ao hospital.

Chegando no hospital não conseguia mais respirar sem o oxigênio e fui para uma sala da ala covid. Não tendo quarto disponível, fiquei em uma sala de observação. Como faltava muito o ar, mesmo com o respirador, permaneci a noite toda em uma cadeira de rodas, pois me sentia melhor do que ficar deitada.

Fui internada na segunda-feira, dia 8 de março de 2021, no Instituto Médico Nossa Vida [onde fui muito bem acolhida por toda a equipe], e até a quarta-feira (10) sentia-me mais ou menos bem. Para não gastar muito a minha energia foi colocado cateter, sonda e passei a usar fraldas. Acredito que este seja o momento mais constrangedor de um ser humano.

No dia seguinte fui me sentindo cada vez mais fraca e não conseguia mais falar; preferia ficar quietinha, para não me cansar. Foi então que a minha família soube de uma injeção chamada de Tocilizumabe, que estaria sendo usada em alguns pacientes da nossa região.

Aí começou uma corrida para conversar com a doutora de Francisco Beltrão, a fim de repassar o receituário e informar como proceder quanto ao uso deste medicamento. Antes de ser aplicada a injeção precisei fazer o CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas). Não foi fácil fazer este procedimento, pois não tinha mais forças.

Para amanhecer sexta-feira (12), passei muito mal; meu estado clínico agravou-se e eu apaguei, não vendo mais nada naquele momento. Precisava-se urgentemente de uma UTI, e não havia nenhuma na região.

Isso fez com que a minha família, familiares, parentes, amigos, pais e alunos rezassem pela minha vida. Foi quando surgiu uma vaga no Hospital São Rafael, em Chopinzinho, sendo encaminhada para lá.

Fui direto para a UTI e intubada, permanecendo cinco dias no tubo e sete dias na UTI. Lutei muito contra o respirador, pois não deixava ele fazer o seu trabalho. Foi neste contexto que, graças à fisioterapeuta, ela percebeu que eu reagia por estímulos. Com isso, ela passou a pedir áudio da família.

E eu não sei o que os meus familiares falavam, mas o meu subconsciente reagia e acabava deixando o respirador fazer a sua parte.

Permaneci internada em Chopinzinho por 12 dias, sendo que dois dias antes da minha alta foi retirada a sonda, o respirador e tudo o que eu usava para respirar, para observar como eu iria reagir sem estes recursos.

Após a minha alta, encontrei várias barreiras a serem superadas [como o caminhar, coordenação, fraqueza muscular, tremores, dificuldades para dormir, tomar banho, comer, escovar os dentes, levantar sozinha, além de uma infinidade de exames a serem realizados] e também passei a ser acompanhada por vários profissionais da saúde.

O meu pulmão foi 100% acometido. Fiquei no limite para estar com trombose, inflamação no coração, nas cordas vocais e na região direita da face. A única coisa que a COVID-19 não comprometeu foi o paladar e a parte neurológica.

Como passei a ser acompanhada por vários médicos, tive uma profissional que passou a me acompanhar mais de perto [a fisioterapeuta], que passou a organizar o meu tempo durante o dia, onde passei a fazer várias atividades aliadas à fisioterapia: como caminhadas; exercícios de fortalecimento pulmonar três vezes ao dia; estender roupas; escolher feijão; bordar; podar e molhar as flores; cozinhar; tudo aos pouquinhos.

Isso auxiliou na minha recuperação e eu nunca deixei de fazer o que os médicos me mandavam fazer, pois o que eu mais desejava naquele momento era ficar bem de saúde, o mais rápido possível.

Também para a minha melhora e evitar maus pensamentos, passei assistir séries, escutar louvores, palavras ou pensamentos de autoestima, bordar e também um tempo para rezar.

E, em um bom período depois da alta, senti-me muito forte, pois tive muita fé, muito apoio da minha família [em especial da minha filha Eduarda, que não desgrudou de mim]. O apoio de todos os meus familiares do meu lado e do meu marido, de muitos e muitos amigos, alunos e pais de alunos, senti-me muito forte e encorajada a enfrentar qualquer desafio.

Mas, em alguns momentos bem depois da minha alta, senti-me muito insegura, com muito medo e que, às vezes, prefiro nem falar para não me machucar ou mesmo para não lembrar todos os momentos difíceis que passei. Também sei que nada em nossa vida vem por acaso e é isso que me fortalece, pois o que é para ser pra gente ninguém passa.

Tenho vários projetos em mente e um deles é poder ajudar o próximo, nem que seja em palavras. Então fui visitar algumas famílias ou mesmo mandei mensagem de apoio e suporte.

Profissionalmente amo de paixão o que faço, gosto de ser educadora, de trabalhar com minhas crianças ou meus adolescentes. Tento dar em todas as minhas aulas o meu melhor, sabendo que nem sempre conseguimos alcançar os objetivos propostos, mas a gente tenta.

Trabalho com a educação há quase 20 anos [sendo professora das disciplinas de História e Sociologia]; e, pela minha felicidade, leciono em uma escola de campo, de onde provém a minha origem.

Gosto então de ser professora, dona de casa, cuidar da minha casa, dos meus filhos, de cozinhar e também gosto muito de ter uma vida social, no convívio com as pessoas que amo. Tenho muitos amigos e amigas, e quando posso sempre nos reunimos para conversarmos e dar risadas.

Também cuido de mim. Ainda mais depois deste susto que passei na minha vida. Faço caminhada, academia, pilates... Nunca tive uma vida sedentária e não sei ficar parada. Quem sabe isso foi outro fator que fez com que eu estivesse hoje aqui.

Tenho muita gratidão a todos que rezaram e oraram pela minha recuperação, pois, se não fosse por Deus, que é o nosso Senhor Jesus Cristo, o todo poderoso, aliada à minha fé, força de vontade, determinação e muito apoio, quem sabe eu não estaria aqui escrevendo a minha história.

Minha família é tudo para mim, a minha base, a minha razão de viver. Sem eles eu também não viveria, sejam eles os meus filhos, marido, pais, irmãos, cunhados, sobrinhos, parentes, amigos e compadres.

Nunca desistam e não deixem de acreditar em vocês mesmos, pois, se desanimarmos, deixaremos de viver. Precisamos mesmo, nos momentos mais difíceis, lembrar que outras pessoas estão em situações mais desafiadoras e, nem por isso, desistiram.

Portanto vamos erguer a nossa cabeça e continuarmos vivendo, pois temos muitas pessoas que se espelham na gente e somos fontes de inspiração a elas. Permitam-se a viver e tirar um tempo para vocês, fazendo o que de fato gostam."

Para saber mais sobre o projeto, acesse o link abaixo:

https://portalvividense.com/noticia/7832/historias-reais-de-mulheres-serao-contadas-no-projeto-entre-nos-em-coronel-vivida.html

Crédito: Rayza Brito

Crédito: Rayza Brito

Crédito: Rayza Brito

Crédito: Paloma Stedile/Portal Vividense

Crédito: Paloma Stedile/Portal Vividense

Crédito: Paloma Stedile/Portal Vividense