VOCÊ TEM CONSCIÊNCIA DO QUE CONSOME?

Crédito: Rosielen Cristina

Crédito: Rosielen Cristina

Recentemente, ouvindo a professora Luciana Caran, numa aula de Economia Compartilhada do programa de MBA em Desenvolvimento Sustentável e Economia Circular da PUCRS, tive um choque de realidade.

Cerca de um caminhão de lixo é jogado no oceano a cada minuto; até 2025, teremos mais plástico que peixes nos oceanos; e já existem cinco ilhas de plástico espalhadas pelos oceanos, sendo que a maior delas se encontra no Oceano Pacífico e possui 1,6 milhão de quilômetros quadrados e 79 mil toneladas de lixo.

Estes dados, unidos ao resultado do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que responsabiliza a espécie humana pelo aquecimento global, bem como alerta que já ocorreram mudanças "irreversíveis" durante "séculos ou milênios", senti um questionamento profundo sobre qual o real comprometimento que o Planeta Terra necessita de cada indivíduo?

A transformação desta realidade precisa ser aceita por todas as esferas da sociedade e níveis econômicos. É um trabalho em conjunto, pois chegamos num ponto em que os esforços devem ser realizados de todos os lados. Não dá mais para ser mais isso ou aquilo. É o futuro das novas gerações que está em jogo.

O grande desafio dos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, é que muitos ainda estão no modo sobrevivência básica, o que torna essa discussão muito complexa, pois para ser sustentável precisa ser viável e barato.

Pensando na realidade da nossa região, onde não há grande concentração industrial, áreas rurais bem extensas e áreas urbanas que crescem exponencialmente, quais seriam as principais práticas que cada indivíduo poderia e deveria ter para com a sustentabilidade do planeta?

Em uma simples ida ao supermercado é possível mensurar a quantidade de embalagens adquiridas junto com os produtos. Observe que quando você quer ou precisa comprar um produto, a embalagem é um bônus (ônus) que vem junto, não o seu objeto de desejo.

Na área urbana do município de Coronel Vivida são recolhidos mensalmente uma média de 50 toneladas de resíduos recicláveis e mais 250 toneladas de resíduos orgânicos e rejeitos.

Estão incluídos na categoria de rejeitos os materiais não perecíveis, que não podem ou não conseguem ser reciclados: papel higiênico, fraldas, absorventes e alguns plásticos. Ainda, material que é possível ser reciclado, mas que foi contaminado com matéria orgânica, como a sacolinha que contém o lixo orgânico e sai da nossa cozinha. Todos esses resíduos não recicláveis são destinados ao aterro sanitário da CTR3, empresa responsável pela coleta no município.

Dos resíduos coletados como recicláveis, após a separação são retirados em média 40% de rejeitos, ou seja, a cada 50 toneladas coletadas como recicláveis, 20 toneladas são rejeitos e 30 toneladas são realmente recicláveis. Todo resíduo coletado como reciclável é entregue para a cooperativa de catadores, a qual realiza a separação e a destinação dos recicláveis.

O estímulo à reciclagem é uma das principais soluções apontadas para resolução do problema dos resíduos. Dessa forma, é possível fazer com que resíduos descartados pelos consumidores possam voltar à cadeia produtiva como matéria-prima, um importante elemento da chamada Economia Circular.

No entanto, esse assunto necessita ser pensado de uma maneira mais ampla. Um dos principais desafios em relação à gestão de resíduos não trata apenas de reciclar, considerando a quantidade de recursos necessários para que a reciclagem seja feita, mas de reaproveitar e de reduzir o volume de lixo. Nesse sentido é importante que todos, sem exceção, participem do processo, seguindo os princípios da responsabilidade compartilhada.

Seguem algumas atitudes muito simples que cada consumidor pode tomar de forma individual para ser um agente da sustentabilidade:

Na ida ao supermercado, troque a sacolinha plástica por sacolas de tecido — as chamadas Ecobags — ou peça caixas de papelão para transportar suas compras;

Utilize saquinhos de tecido para colocar as frutas, verduras e legumes;

Escolha comprar produtos que não estejam embalados em isopor;

Troque a vassoura de plástico pela vassoura de palha com cabo de madeira;

Opte por colocar o pão e artigos de panificadora em sacos de papel;

Reflita se o produto que você está comprando é realmente necessário, avaliando o impacto que sua aquisição tem no meio ambiente;

Em casa, pratique a separação correta do lixo doméstico;

Na rua, mantenha sempre um copo e garrafinha reutilizável na bolsa ou no carro;

Não utilize canudos de plástico, pois o impacto desse item não compensa o tempo de uso;

Nas empresas, troque os copinhos descartáveis por xícaras e copos que serão usados por tempo indeterminado;

Evite, sempre, o desperdício de qualquer recurso, seja água, luz, papel, alimentos ou combustível. Quando puder, vá a pé ou de bicicleta;

Faça sua própria compostagem, transformando seu lixo orgânico em adubo.

Uma vida sustentável passa por uma mentalidade que preza pelo cuidado, pelo reaproveitamento, pela cultura do conserto e não do descarte.

É claro que essas atitudes são apenas uma pequena parte do que precisa ser feito para criar um planeta sustentável. Porém, também fazem parte do processo de transformação de um modo de vida consumista, para um modo de vida sustentável. Já não há mais tempo para esperar, ou a realidade das próximas gerações será afetada de forma muito drástica e perigosa.

* Marti Donel é administradora em Coronel Vivida; idealizadora do projeto É Conversa de Mulher; e estudante de Desenvolvimento Sustentável e Empreendedorismo Social