O ChatGPT é uma inteligência artificial generativa, responsável por reconstruir textos, imagens e até sons digitais com base em padrões cujos significados humanos foram identificados por meio de aprendizagem de máquina. O lançamento do ChatGPT em novembro de 2022 gerou alarde entre professores ao apresentar uma ferramenta de chatbot com aparentes respostas ilimitadas.
A preocupação surgiu baseada na possibilidade de utilização da plataforma para colar em provas e trabalhos, além de limitar o tempo de estudo e pesquisa do aluno, o induzindo a respostas errôneas. Embora as preocupações tenham embasamento, de acordo com pesquisador Rodrigo Abrantes, doutorando pelo Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e orientando de Walkyria Mór, o ChatGPT, se adaptado ao contexto escolar, pode servir como um importante instrumento no processo de aprendizagem.
Abrantes integra um grupo de 13 pesquisadores, liderado por professores da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, nos Estados Unidos, desde 2018. A equipe foi responsável pela recalibragem do ChatGPT e a sua implementação em uma plataforma digital interativa que promove a inserção de novas tecnologias na sala de aula. O experimento foi realizado na Faculdade de Educação da Universidade de Illinois e contou com a participação de 62 estudantes de pós-graduação, sob supervisão de Bill Cope e Mary Kalantzis . "Em nosso projeto, o ChatGPT não entrou para substituir nenhum dos processos de aprendizagem, mas foi posicionado para verificarmos se poderia ter alguma utilidade para complementar esse processo educacional híbrido, com atividades em sala de aula e na plataforma digital", explica o pesquisador ao Jornal da USP.
A reprogramação da ferramenta (recalibragem) foi realizada a partir de um processo intitulado engenharia de prompts: para cada critério de correção estabelecido que o Chat usasse para ler o trabalho do aluno e gerar feedback, foi necessário criar um prompt específico, com uma sequência de instruções que ele deveria seguir para dar um feedback útil ao usuário.
A plataforma digital dos testes se chama Scholar e já tem sido usada em faculdades de educação pelo mundo desde 2009. Ela garante um intermédio de revisões de trabalhos escolares por pares e professores baseadas em rubricas – um método de correção apresentado em tabela com a descrição das competências que serão avaliadas. O estudante escreve o trabalho na própria plataforma e o manda para uma revisão realizada por seus pares. Agora, o grupo incluiu a etapa de revisão pela inteligência artificial (IA) logo após a avaliação da atividade pelos alunos, e antes da verificação pelo professor responsável e do envio final da tarefa.