As chuvas intensas, que caíram no Paraná nos últimos dias, fizeram vítimas e causaram prejuízos financeiros no campo e nas cidades. A instabilidade era prevista no Boletim Climático - Primavera 2022 do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), publicado em setembro passado. O relatório alertava para a atuação dos chamados Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM) e que, por ser uma estação de transição, a primavera favorece a ocorrência de eventos meteorológicos severos, como rajadas de ventos fortes, granizos, grande quantidade de raios e chuvas volumosas.
O trabalho desenvolvido está diretamente relacionado com os meteorologistas, profissionais celebrados no dia 14 de outubro, com o Dia do Meteorologista no Brasil. No Paraná, são 33 profissionais da área registrados junto ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-PR).
A previsão dos meteorologistas do Simepar demanda cuidados por parte da população. Entre sexta-feira e domingo, o tempo segue instável em todo o Paraná.
As chuvas podem ocorrer a qualquer momento do dia, com acumulados de precipitação que podem ser expressivos. Há a expectativa de ocorrências de chuvas, com distribuição irregular, pelos próximos 15 dias, em diversas regiões paranaenses.
Sudoeste
Em Francisco Beltrão, onde o Simepar tem uma estação meteorológica, o grande volume de precipitação em pouco tempo fez o rio Marrecas transbordar nesta terça-feira (11). Na bacia da Estação de Tratamento de Ãgua (ETA) de Francisco Beltrão, o volume de chuva acumulada chegou a 222 mm no dia. As cheias são um problema frequente no município, que conta com a maior obra de drenagem urbana do interior do Brasil, um túnel de 1,2 mil metros para escoamento da água do rio Marrecas.
O engenheiro civil Vinícius Perin, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Sudoeste do Paraná (Sudenge) e coordenador-adjunto do Colégio de Entidades Regionais (CDER) do Crea-PR, destaca que o problema de enchentes em Francisco Beltrão e outras cidades do Sudoeste é histórico. As cidades foram erguidas próximas a bacias e os rios, em geral, têm pouca declividade.
"Além disso, com o avanço das construções e a maior impermeabilização dos solos, começaram a ocorrer as enxurradas. As tubulações e galerias foram construídas há 40 anos ou mais, e podem não ter o dimensionamento para os atuais volumes", acrescenta Vinícius.
Alerta para os moradores
O engenheiro explica ainda que o túnel para contenção está pronto, mas falta ainda a conclusão do canal de aproximação, que está em cerca de 10%. "O túnel amenizou a situação, mas a obra ainda deve levar mais um ano para ficar pronta. Segundo o Simepar, entre 7h e 8h da terça-feira (11), choveu 40,4 mm em Francisco Beltrão, volume muito grande em muito pouco tempo", detalha.
Vinícius Perin faz um alerta para famílias que residam em áreas próximas a córregos e rios e/ou que tenham tido seus lares alagados pela enchente.
"É importante observar se as estruturas não foram afetadas. Qualquer sinal de rachadura, piso trincado ou fora do nível, ou qualquer sinal que mostre que não está como antes, deve-se acionar um profissional habilitado da Engenharia ou até mesmo a Defesa Civil", reforça o engenheiro civil.
O que diz a meteorologia
As chuvas que castigaram o Sudoeste resultaram em um cenário de caos com inundações, casas destelhadas ou destruídas, desabrigados e a suspensão de serviços públicos. Até o momento, a Defesa Civil calcula que cerca de 600 famílias foram afetadas na região.
A principal justificativa da meteorologia para o ano de irregularidades climáticas é o fenômeno La Niña, que ainda deve influenciar as chuvas no Estado até o mês de novembro.
Lizandro Jacóbsen, meteorologista do Simepar, ressalta que as cidades do Oeste e Sudoeste do Estado registraram o dobro de chuva prevista pela média histórica em setembro. Em Guarapuava, o número bateu os 290 mm na estação, que tem média histórica em setembro de 166,5 mm e que em 2021, registrou apenas 72,6 mm. No Norte, Noroeste e na capital Curitiba, os números ficaram entre 30% a 40% acima da média histórica, conforme o levantamento do Simepar.
"A primavera ainda será marcada pelo fenômeno La Niña, que é caracterizado pela irregularidade das chuvas, por isso, algumas regiões podem registrar uma alta quantidade de precipitações enquanto outras seguem dentro da média", explica Jacóbsen.
Plantio atrasado
Se, por um lado, os reservatórios de água ficam preparados para as estações mais quentes do ano, o que beneficia a agricultura e diminui os riscos de racionamento, as mudanças climáticas alteram os ciclos de produção agrícola. "O calendário agrícola acabou sendo prejudicado, principalmente no início do cultivo para o verão por causa da seca, que atrasou os trabalhos. A colheita do trigo também foi prejudicada pelas chuvas acima do previsto", lembra o meteorologista.