Método desenvolvido na USP calcula o potencial produtivo dos solos agrícolas nos municípios brasileiros

Crédito: Jornal da USP/Imagem cedida pelo pesquisador

Crédito: Jornal da USP/Imagem cedida pelo pesquisador

Pesquisadores da USP desenvolveram uma metodologia para calcular o potencial produtivo dos solos agrícolas no Brasil. Com base nos dados sobre características do solo em 70 mil amostras coletadas em todo o País, o método é capaz de apontar, por exemplo, quais municípios são mais promissores na produção de cana-de-açúcar e soja. As duas culturas foram analisadas na pesquisa por terem muita importância econômica, mas o método pode ser aplicado a outros cultivos. O trabalho foi realizado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba.

"O solo possui uma capacidade inerente para atender às demandas das culturas em termos de disponibilidade de nutrientes e água, influenciando no processo fotossintético da planta e na fabricação de biomassa", relata o engenheiro agrônomo Lucas Tadeu Greschuk, que realizou o estudo. "Portanto, o potencial produtivo do solo, um indicador conhecido pela sigla SoilPP, se refere a sua capacidade de produzir biomassa em resposta à avaliação de seus atributos químicos, físicos e biológicos."

O pesquisador desenvolveu uma estratégia para estudar os solos agrícolas brasileiros em detalhes. "Informações sobre propriedades da terra, em até 1 metro de profundidade, e técnicas de estatística multivariada foram utilizadas para construir um sistema de pontuação que variou de 0 a 100, com os valores mais altos representando alto potencial dos solos para a produção de biomassa", explica Greschuk. "O SoilPP foi validado com informações de campo."

Os dados analisados no trabalho são oriundos do banco de dados do Geotechnologies in Soil Science team (GeoCis), organizado pelo professor José Alexandre Demattê, da Esalq. "Foram usadas cerca de 70 mil amostras coletadas em áreas agrícolas espalhadas pelo território brasileiro, com informações sobre os níveis de argila, areia, silte [fragmento de mineral menor do que areia fina e maior que argila], carbono orgânico do solo, matéria orgânica do solo, pH [acidez], saturação por alumínio, além da saturação de bases, delta pH, declividade do terreno, índice de intemperismo e outros", aponta o engenheiro agrônomo. "Os atributos de cada uma delas receberam uma pontuação variando entre 0 a 100, todos eles foram integrados em um índice ponderado e, por fim, cada amostra teve uma pontuação SoilPP variando entre 60 a 100."

Potencial produtivo

De acordo com Greschuk, os solos com maiores valores SoilPP são os melhores em termos de potencial produtivo. "Eles apresentam maior profundidade, boa drenagem, textura fina, ricos em nutrientes para as plantas, o relevo pode ser variável e sem a presença de afloramentos rochosos", descreve. "Por outro lado, os com SoilPP muito baixo possuem baixa capacidade de fornecer nutrientes às plantas, geralmente apresentam textura grossa [arenosa], baixa retenção de água e, consequentemente, baixa disponibilidade para a planta; podem apresentar profundidade variada e, em alguns casos, alta presença de pedras."

Com base nessas informações iniciais, outras análises foram realizadas em biomas, cultivos e municípios. "A partir do mapa dos solos agrícolas brasileiros, que abrange 205 milhões de hectares [ha], foi realizada a estimativa do potencial produtivo, o SoilPP, em cada um dos biomas, divididos em áreas de 900 metros quadrados [m2], denominadas pixels [resolução espacial]", observa o pesquisador. Biomas são regiões cuja cobertura vegetal e clima apresentam características semelhantes. "O bioma com maior uso destinado a atividades agrícolas é o Cerrado, ocupando cerca de 71 milhões de hectares."

Os valores de produtividade média municipal para a soja e a cana-de-açúcar foram obtidos por meio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo calculada a média para as safras de 2016 a 2020. "No total, foram analisados 2.304 municípios brasileiros com produtividade média de soja acima de 1.500 quilogramas por hectare (kg ha-1). Baixos níveis de produtividade média municipal foram observados em 896 cidades produtoras, os quais poderiam ser aumentados", descreve o engenheiro agrônomo. "Para a cana-de-açúcar, foram analisados 2.468 municípios com produtividade média acima de 35 toneladas por hectare (ton ha-1), 1.056 apresentaram baixos níveis de produtividade média municipal". Os resultados da pesquisa são detalhados na dissertação de mestrado Potencial produtivo dos solos agrícolas brasileiros, apresentada por Greschuk no último dia 28 de junho, na Esalq.

Greschuk aponta que a metodologia indica onde a produtividade média da cana-de-açúcar e da soja poderia ser melhorada em locais onde as culturas já estão sendo cultivadas, minimizando a abertura de novas áreas agrícolas. "É possível saber quanto cada município poderia aumentar seu desempenho de produção média em quilogramas ou toneladas por hectare", enfatiza. "Mas isso também vai requerer um estudo mais aprofundado e também saber investigar quais fatores estão interferindo: genéticos, do solo (pedológico), climáticos ou incidência de pragas e doenças na produtividade das respectivas culturas."

A pesquisa foi realizada no Departamento de Ciência do Solo da Esalq, com orientação do professor José Alexandre Demattê. Colaboraram com o trabalho os pesquisadores da Esalq Nélida Silvero, José Lucas Safanelli, Jorge Tadeu Rosas e Nícolas Rosin. O trabalho teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Geotechnologies in Soil Science team da Esalq.