Minha mãezinha biológica deu a maior prova de amor do mundo, oferecendo à sua filha a possibilidade de ter uma vida digna

Para saber mais sobre o projeto, acesse o link no final do depoimento

Crédito: Rayza Brito

Crédito: Rayza Brito

Esse fragmento de história aqui é muito emocionante, se preparem! A Martileine Donel, mais conhecida como Marti, é aquela pessoa que com toda certeza, se vivêssemos na época da inquisição, estava destinada a ir para a fogueira.

Com uma capacidade de ver no outro tudo o que há de bom, e de fazer laços afetivos e círculos de amizade completamente improváveis, e extremamente possíveis e necessários. Ela é autêntica, cheia de atitude, amável e alto astral.

"Me chamo Martileine Donel. Desde muito pequena fui apelidada de Marti, sendo que muitas pessoas nem sabem meu nome completo. Nasci no interior do Rio Grande do Sul, mas moro no Paraná há 14 anos; e vim aqui pra te contar uma história.

Na madrugada do dia 27 de dezembro de 1982, no hospital Santo Ângelo — em Santo Ângelo (RS) — foi registrada a entrada de uma moça em trabalho de parto. Em menos de cinco horas, ela deu à luz a uma menina, a qual ela não quis nem conhecer e pediu que o hospital encaminhasse a criança recém-nascida para adoção.

O hospital mantinha um cadastro de famílias interessadas a serem pais adotivos. Nele constavam os nomes Solmi e Guido Strieder, os quais foram imediatamente contatados. Porém, esse casal havia adotado um menino há menos de três meses e não pôde ficar com a criança.

Mas, como a vida é uma linha solta e cada passo que damos nos conecta com alguém, em algum lugar, Solmi lembrou que sua vizinha Ana, casada há muito tempo e sem filhos [em uma visita ao pequeno Daniel, seu filhinho recém-adotado] havia expressado a vontade de adotar uma criança. Solmi foi imediatamente até a casa da vizinha contar da criança recém-nascida posta em adoção e perguntou se ela e o marido gostariam de ficar com a pequena.

Sem pensar muito, Ana foi até onde seu esposo estava trabalhando e, juntos, decidiram que queriam ficar com a bebê. Com algumas roupas e fraldas emprestadas, embarcaram na Brasília 1975 e partiram rumo a Santo Ângelo e a maior aventura de suas vidas.

Chegando no hospital, por volta do meio-dia, foram orientados a esperar até que alguém trouxesse a bebê. Alguns minutos depois, uma freira surge no quarto com a bebezinha nos braços e pergunta quem seria o casal que aceitaria cuidar da pequena. Ana e Adelmo levantaram e, então, a freira ofereceu a pequena menina ao colo de sua nova mãe. Foi neste momento que o amor incondicional e a generosidade faziam surgir uma nova família.

Essa é a história do meu nascimento, que escrevo com um nó de emoção na garganta e o coração cheio de gratidão.

Gratidão não só aos pais que me cuidaram, amaram e sustentaram. Gratidão a minha mãezinha biológica, que deu a maior prova de desapego e amor do mundo, dando a sua filha a possibilidade de ter uma vida digna e feliz, a qual ela não poderia dar.

Essa moça corajosa, que se chama Cirila, da qual há uns três anos pude descobrir algumas coisas: inclusive que ela usou o nome da irmã Astrogilda para dar entrada no hospital e era esse o nome escrito no bilhete de papel rasgado, que meus pais guardaram por todos esses anos.

Que ela enfrentou a família e saiu Brasil afora em busca de sua liberdade; depois de viver tanta dor e falta de amor; depois de se ver sozinha e desamparada. Com apenas oito aninhos tentou fugir de casa, mas foi arrastada de volta pelos cabelos por sua mãe, minha avó. Pense você, como devia ser viver nesta casa?

Com 14 anos foi mãe solo e ainda teve mais dois filhos depois, sem contar comigo. Essa moça, de forma muito astuta, na minha opinião, usava o nome da irmã nos cadastros dos hospitais para não ser encontrada. E nunca foi, nem por nós [seus filhos], nem por suas irmãs.

Percebe que eu poderia ter uma forma triste e revoltada de contar essa história? Mas eu escolhi contar sob o olhar do amor e da honra pela minha vida. Com empatia pela história dela, sem julgar...

Hoje sou mãe de duas crianças; e, todos os dias, procuro ter força para educar meus filhos com presença e disponibilidade, pois entendo que a minha disponibilidade em maternar pode ressignificar as memórias de rejeição e abandono que possam ter ficado em meu DNA e subconsciente; entendo que me curando estarei curando também a minha linhagem. E, acredite, as memórias ancestrais são reais e se manifestam quando a maternidade exige um pouco mais de mim; o primeiro ímpeto é fugir, assim como a mãe Cirila.

O reconhecimento ao amor das minhas mães, cada uma a sua maneira, trouxe honra ao meu feminino e fez com que eu quisesse desconstruir padrões que ferem, diminuem e subjugam a mulher e sua autenticidade.

Sonho que todas as mulheres possam se ver através do poder do Feminino Sagrado, não da rivalidade, da inveja e competitividade. Quero que, cada vez mais, mulheres desenvolvam a consciência menstrual e o entendimento de que sua natureza cíclica é força e vida. E que viver na sororidade é adentrar um portal para a urgente transformação do mundo."

Para saber mais sobre o projeto, acesse o link abaixo:

https://portalvividense.com/noticia/7832/historias-reais-de-mulheres-serao-contadas-no-projeto-entre-nos-em-coronel-vivida.html

Crédito: Rayza Brito

Crédito: Rayza Brito

Crédito: Rayza Brito