MicroRNAs são moléculas que têm um papel fundamental devido à sua função regulatória, ao inibir a expressão de determinados genes. Quando modulados pelo exercício físico, podem levar a benefícios cardiovasculares, segundo estudo do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular do Exercício da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP.
A professora Edilamar Menezes de Oliveira, coordenadora do laboratório e responsável pela pesquisa, conversou com o Jornal da USP no Ar 1ª Edição. "Os efeitos do treinamento físico vão muito além do que nossos olhos podem ver", destaca.
Sobre os microRNAs, a professora nos conta: "São moléculas pequenas, mas podem ter muita importância no nosso organismo". Cerca de 30% dos nossos genes são regulados por microRNAs. Essas moléculas não têm função de produzir proteínas, como outros tipos de RNA, mas de bloquear RNAs mensageiros, inibindo sua função e, assim, atuando na regulação da síntese de proteínas no nosso organismo.
O estudo
O estudo da EEFE começou com a tese de mestrado de Clara Nóbrega e foi desenvolvido na Iniciação Científica dos alunos de Educação Física Fabricio Moliterno Silva e Gabriel de Souza Monteiro. Nele, os pesquisadores estudaram a ação do microRNA 34c3p na captação de glicose e na translocação do GLUT4 em cardiomiócitos.
Edilamar explica que já é conhecido que o treinamento físico anaeróbico leva a várias adaptações benéficas do sistema cardiovascular, melhora o fluxo sanguíneo em todo o organismo e, quando o exercício acontece de forma organizada e com frequência, promove adaptações benéficas no coração. Essas alterações causam a hipertrofia do coração, permitindo que bombeie mais sangue, mantendo uma frequência cardíaca igual ou até menor.
A partir disso, o laboratório treinou animais através da natação, promovendo a hipertrofia do coração, e traçou o perfil dos microRNAs expressos nos corações desses animais. Assim, descobriram que o RNA 34c3p era encontrado em quantidades reduzidas nessas condições no coração dos animais.
A próxima etapa foi estudar os cardiomiócitos, células cardíacas, em sistema isolado. Os alunos induziram a inibição desse microRNA nas células em cultura e observaram que elas se tornaram maiores, batiam com maior força de contração e em frequência mais baixa.
O que a pesquisa possibilita
Edilamar conta que a possibilidade de inibir artificialmente esse microRNA pode ser especialmente benéfica para pacientes diabéticos e para pacientes que estão impossibilitados de realizar treinos físicos, como aqueles que sofreram infarto do miocárdio.
Inibir essa molécula possibilita uma maior translocação do GLUT4, que capta glicose para o miocárdio, tornando o miocárdio mais nutrido e possibilitando uma melhor eficiência do coração em sua função de bombeamento.
A possibilidade de induzir esse efeito através de tecnologias que inibam esse microRNA não substitui o exercício físico, mas pode servir como recurso coadjuvante para o tratamento de pacientes impossibilitados de realizar essas atividades.