Agricultores familiares de Coronel Vivida e Honório Serpa relatam dificuldades com a estiagem

Da esquerda para a direita: Francisco Lotti e seu filho; juntamente com o presidente do Sintraf, Dacio Haubert (Crédito: Assessoria/Sintraf)

Da esquerda para a direita: Francisco Lotti e seu filho; juntamente com o presidente do Sintraf, Dacio Haubert (Crédito: Assessoria/Sintraf)

A estiagem tem acumulado prejuízos no bolso do agricultor. É a lavoura, que não produziu; é a pastagem, que não nasceu; é o milho, que não desenvolveu o suficiente para fazer silagem e tratar os animais; é as vacas sem água; é o perito, que demora fazer a vistoria; (...) e as contas chegando.

No caso do agricultor familiar Francisco Lotti, da comunidade de Santa Lúcia, zona rural de Coronel Vivida, seus prejuízos são na lavoura de milho, com queda de produção aproximada de 50%.

Isso irá refletir na atividade leiteira, pois esse milho será destinado à silagem, a qual "não será suficiente e, para não faltar comida aos animais, serei obrigado a comprar ração, aumentando os custos e acumulando prejuízos, já que, atualmente, estou trabalhando no vermelho", afirma.

Já o senhor Valmir Mangoni, da Linha Borsato, relata que "a situação é crítica". Afirma que teve prejuízos superiores a 65%, devido "aos 60 dias de sol", que atingiram sua propriedade.

Mangoni ainda destaca a preocupação com o baixo volume de água nos lençóis freáticos, rios, fontes e sangas. "De um tempo pra cá diminuiu muito as águas, cada vez diminui mais".

Segundo ele, os agricultores clamam por políticas que amenizem os prejuízos e que "o governo federal tem que dar uma olhada pra agricultura, mandar auxílio para pagarmos as nossas contas, não baixar a cabeça e sobreviver", pontuou o agricultor.

Adriano Cardoso, da comunidade do KM 5, não conseguiu colher o milho; e se obrigou a se desfazer de animais que produzia para autoconsumo e o excedente comercializava (como galinhas e vacas), para saldar as dívidas.

Relata que negociou na "agropecuária", conforme "o passo da perna", pois o milho que plantou "deu apenas rastoio e é tudo falhado".

Para Valdecir de Oliveira (Mano), da comunidade de Vaca Branca, do município de Honório Serpa, a vocação do agricultor familiar é produzir alimento e "é isso que sabemos fazer".

"Não queremos vender nossos animais e nossa terra para pagar conta. Se isso acontecer, vamos inchar as favelas e aumentar o número de desempregados no Brasil".

Mano conta que já presenciou vizinhos que, compraram vacas por R$ 8.000 e, agora, com a estiagem, se obrigaram a vender por R$ 2.000, para quitar dívidas.

O agricultor familiar Itamar Gregolin, da comunidade de São Pedro, de Coronel Vivida, traz à tona outra grande preocupação.

Durante a assembleia realizada na última segunda-feira (31), pelo Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Sintraf), ele perguntou, aos agricultores presentes, "quantos dali haviam financiado na última safra?". A resposta foi surpreendente, aproximadamente 40% dos agricultores presentes não acessaram o Pronaf.

Gregolin é um dos que não financiou, fez a lavoura com recursos próprios e destaca os seguintes motivos: "excesso de burocracia, altos custos e demora na peritagem (quando acessa o seguro)".

Ele conclui que "isso é um grave problema, pois quando se investe recurso próprio, em um ano como esse de perdas, o agricultor se descapitaliza, fica sem renda e não sabe como fazer a próxima safra", diz, alertando da necessidade de um crédito produtivo, "para dar um alento às famílias que estão nessa condição".