Estudante de Coronel Vivida se destaca em nota da redação do Enem

Crédito: Arquivo pessoal

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Na última sexta-feira (28), foi a vez dos "treineiros" saberem seus desempenhos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020. Eles não concluíram o Ensino Médio, porém realizam a prova a fim de autoavaliar seus conhecimentos, não tendo o direito de utilizar as notas do exame para ingresso em cursos de graduação — ao contrário dos demais inscritos, que obtiveram as suas notas em março, para concorrer vagas nas universidades.

Destaque para a estudante de Coronel Vivida, Marya Eduarda Marcondes da Silva Detogni, de 15 anos. A jovem é bolsista do 2º ano do Ensino Médio, no Colégio Mater Dei em Pato Branco, e fez a prova quando estava no 1º ano — que, devido à pandemia, precisou ser transferida para os dias 17 e 24 de janeiro.

A adolescente obteve 980 pontos na Redação [que tem a nota máxima de 1.000]. Ela teve acesso ao espelho, na sexta-feira, por meio do qual pode conferir seu desempenho em cada competência.

Marya Eduarda recebeu nota máxima em quatro das cinco competências, que consistiram em: compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo; selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista; demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação; e elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

O título, segundo ela, era opcional e decidiu não colocá-lo. Já o tema era "O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira".

A jovem conta que o seu repertório sociocultural foi composto pela Constituição Federal de 1988 e seu Artigo 6º, o qual prevê a saúde como direito inerente a todo cidadão brasileiro e que deve ser garantido pelo Estado.

"Também John Locke, importante filósofo e suas ideias de "contrato social", além de dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a depressão. Na conclusão, tive como proposta a ação do Ministério da Saúde, por meio de alianças com as prefeituras para atendimento de psicólogos nas unidades básicas de saúde e palestras desses em praças públicas, a fim de que quem sofre com essas doenças possa ter acesso ao tratamento e não precise sofrer preconceito adicionado a esse processo".

Marya Eduarda diz que a nota foi motivo de imensa alegria e, quando olhou para ela, não conseguia acreditar, pois sempre pensava nos 980 como uma pontuação presente apenas nos seus sonhos.

Ela considera o apoio da escola como um dos principais responsáveis pelos 980, pois "sempre reconheceram a importância da redação e a minha professora de redação, Bruna Kely de Jesus, é excelente; sempre corrige com imenso zelo e rigorosidade, estando sempre pronta para ajudar nas produções com o potencial que ela sabe aplicar como ninguém. Ademais, o contato com diversas informações de vários assuntos foi fundamental, seja pela internet ou pelos jornais, pois isso constrói repertório. Também o treino em casa, em formato Enem, foi essencial para que soubesse como reagir a um tema como o que caiu", declara, completando que o seu colégio apresentou outros excelentes resultados, "várias notas acima dos 800 pontos, sendo que uma das minhas melhores amigas alcançou a grande marca dos 900".

Rotina de estudos

Para a jovem, o tempo de estudo não é algo que mais importa. Ela afirma que o que mais interessa é a qualidade do estudo, valendo mais uma hora bem estudada, do que cinco horas que dão a falsa ilusão de rendimento.

"A partir disso, minha rotina é composta por todos os dias estudar para as matérias que vi de manhã em aula, mas nunca um tempo exorbitante, pois o cuidado com a saúde mental e a socialização são fundamentais".

Marya Eduarda ainda destaca que ela sempre foi muito ligada à leitura e isso é resultado do incentivo da sua família. "Principalmente da minha avó, Elizabet, e da minha tia Francilene, as quais compravam livros pra mim desde o dia do meu nascimento e sempre me deixavam em contato com eles, desenvolvendo assim o gosto por ela".

A estudante recorda que inclusive, durante a sua infância, sempre ganhava o presente de aniversário acrescido de um livro, "pois a minha avó sempre os considerou essenciais na minha formação e crescimento. Com isso, o gosto pela escrita foi apenas um resultado. Gosto muito de formar opiniões sobre os diversos assuntos e aqui em casa brincam que eu "sempre tenho uma resposta pronta para tudo". Acho que isso auxilia a não ser manipulada, seja pelo governo ou pelas mídias".

Graduação

Quanto à graduação, a estudante não sabe ainda qual área seguir. "Acho que, conforme o passar do Ensino Médio, conseguirei decidir. Mas não quero tomar nenhuma atitude precipitada, pois é a minha carreira que entra no jogo".

Nas demais notas do Enem, tirando redação, a adolescente diz que matemática foi a que obteve melhor resultado. Isso é resultado dos anos de Ensino Fundamental e do primeiro do Médio, "acrescido do curso oferecido pelo meu professor do colégio, o Fera nas Exatas, pelo qual tive contato com questões anteriores do Enem. Porém, meu maior número de acertos foi em humanas, área que tenho mais facilidade, mas a Teoria de Resposta ao Item (TRI) — cálculo feito pelo nível das questões que você acerta e erra — não valoriza tanto esses acertos. Concluindo, gostei das minhas notas e acho que consigo melhorar mais ainda até o ano que não serei mais treineira".

Para ela, fazer uma prova do tamanho do Enem em um ano tão conturbado como tem sido nos últimos tempos é sinônimo de resistência e luta, mesmo com todas as dificuldades impostas. "Preciso agradecer por ter tido o privilégio de poder ter estudado com qualidade, o que infelizmente não foi unanimidade no Brasil por vários motivos, que a pandemia só tornou mais explícitos".