Neste mês, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS ADIII) de Coronel Vivida completa dois anos e meio de funcionamento. Situada na rua Major Estevão Ribeiro do Nascimento, a unidade atende não apenas Coronel Vivida, mas também outros 14 municípios do Sudoeste e dois de Santa Catarina.
A estrutura é destinada a dependentes de álcool e todos os tipos de drogas [lícita e ilícita], a qual trabalha a redução de danos. "Quando o dependente vem para cá, fazemos triagem específica, em que o paciente escolhe se pretende fazer a desintoxicação de 14 dias na própria unidade", explica João, coordenador do CAPS ADIII.
Nas situações em que os dependentes não querem deixar seus empregos, por exemplo, "recomendamos que façam o tratamento em casa. Dessa forma, o direcionamos de volta ao seu município, com o acompanhamento da Saúde", acrescenta, explicando que a unidade é gerida pelo Consórcio Intermunicipal de Saúde (Conims).
Nos casos em que os dependentes vão até a unidade, consultam, porém "não se sentem bem, podem pedir alta, uma vez que o acolhimento é voluntário e o paciente não é obrigado a ficar na estrutura".
Acolhidos
Ao todo, segundo dados obtidos até na última sexta-feira (4), o CAPS ADIII atendeu mais de 400 pessoas. Dessas, cerca de 50 foram apenas consultas; enquanto que as outras 350 foram atendimentos consumados, ou seja, em que os dependentes ficaram 14 dias na estrutura.
Conforme o coordenador, dentre todos os pacientes acolhidos, Coronel Vivida é o que registrou maior quantidade, 77 pessoas; seguido de Itapejara D'Oeste, 36; e Honório Serpa e Mangueirinha, 35 cada.
Em relação ao motivo do acolhimento, João explica que a maioria é devido ao álcool (291); seguido de cocaína/crack (27); múltiplas drogas (22) e maconha (10). "As características com maior incidência de acolhimentos são homens, entre 25 e 50 anos".
Como funciona
Como o CAPS ADIII é regional, cada município tem um ponto específico para que os dependentes busquem auxílio e, consequentemente, sejam encaminhados à unidade em Coronel Vivida.
"Em Coronel Vivida, por exemplo, pedimos preferencialmente para que passem pela avaliação da psicóloga do CAPS I, que coloca na lista de espera com os demais municípios e, conforme à demanda, vamos chamando essas pessoas", diz João.
Contudo, segundo ele, nada impede que o dependente também procure diretamente a unidade. "Fazemos a conversa, o aconselhamento e o pré-agendamento, para que possa estar vir à unidade. Mas a preferência é que antes faça a avaliação com a psicóloga".
Ele lembra que, embora o CAPS ADIII tenha "portas abertas" e o paciente possa ir a qualquer hora, a estrutura atende a região. "Por isso, precisamos respeitar a demanda dos demais municípios, não podemos só abrir vaga para Coronel".
Além da psicóloga, ele orienta que o dependente pode buscar encaminhamento para o CAPS ADIII por meio de consulta na Unidade Básica de Saúde de seu bairro, para que o médico encaminhe essa pessoa para o acolhimento.
Horário
Por ser uma pactuação com outros municípios, a estrutura tem protocolo específico, com horários determinados para realizar o atendimento. Além disso, para que o dependente possa ser acolhido, é necessária uma série de exames, sobretudo pelo momento de pandemia.
Como o CAPS ADIII funciona 24h por dia, sete dias por semana, se alguma pessoa for até o local, sempre terá alguém para atendê-la na portaria, orientando quanto ao horário de atendimento, que é de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 17h.
Profissionais
A estrutura conta com 23 profissionais — entre enfermeiro, clínico geral, terapeuta ocupacional, educador físico, farmacêutico, assistente social, pedagogo, técnico administrativo, zelador e manutenção.
Além disso, a unidade tem o apoio/participação da comunidade. "Temos missas aos domingos; celebrações com a igreja evangélica nas quintas-feiras; além de constelação familiar; rodas de chimarrão [cada um com a sua cuia]. Antes da covid-19, tínhamos mais colaboradores, que vinham fazer yoga, palestras, entre outras atividades. Tudo isso acompanhado pela nossa equipe, num momento em que os acolhidos dividem suas histórias".
Ainda, durante os 14 dias que ficam no CAPS ADIII, os acolhidos têm acompanhamento pedagógico. "Há situações em que eles não sabem ler e a pedagoga inicia esse trabalho. Posteriormente, são encaminhados para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Enfim, a função da unidade é reinserir essas pessoas na sociedade, de forma que venha a ser produtivo e recupere seus valores, sua autoestima".
O coordenador destaca que, além de todas essas atividades, os acolhidos realizam várias outras, não ficando ociosos, nem desacompanhados. "Existe um cronograma diário de atividades: são aprendizados, cuidados pessoais, atendimentos médicos, enfim, todos durante o dia ficam envolvidos em atividades, por conta da nossa equipe que é multidisciplinar".
Recuperação
Dos acolhidos até hoje, segundo João, cerca de 10% nunca mais voltaram a ingerir drogas e/ou álcool; a grande maioria [60%] está em redução de danos, ou seja, usam esporadicamente, tem picos de recaída, mas conseguem se manter no quadro de redução de danos; e cerca de 30% teve recaída plena e preferiu continuar com o uso de álcool e/ou drogas.
"Só a redução de danos já é um grande avanço, pois se consegue reduzir o uso significa que, com o tempo, pode ir diminuindo cada vez mais. Podemos dizer que aqui no CAPS ADIII nosso índice de sucesso é muito elevado se comparado com outros lugares. Inclusive, há relatos de pessoas, que vieram de fora e disseram que nunca foram tão bem tratadas como aqui".
Ele atribui o sucesso tanto à equipe de profissionais, como à sociedade como um todo. "A população de Coronel Vivida é acolhedora por natureza e somos muito gratos. Inclusive, quem quiser fazer trabalho voluntário, com oficinas ou colaborar com doação de itens para artesanato, só entrar em contato conosco. É por meio da ajuda de cada um que conseguimos mudar o mundo. Pois não são apenas os acolhidos que são beneficiados, mas famílias que são mantidas e restabelecidas com a recuperação".
João finaliza: "O CAPS ADIII vem pra ajudar a transformar a vida das pessoas. A dependência química é uma doença. Muita gente trata isso como vagabundagem, mas o que acaba por desencadear o uso dessas substâncias, muitas vezes, iniciou lá na infância, por meio de algum trauma. Ou até mesmo na vida adulta, como a perda de um familiar. Enfim, existem vários motivos para que isso desencadeie. Por isso é uma doença, tem que ser tratada com todo o respeito e atenção, afinal, são vidas que tratamos aqui, nos importamos com a vida".