Nosso interior: conheça a história da comunidade de Abundância

Série de reportagens, produzidas pelo Portal Vividense, com o apoio da Cresol

Crédito: Jeferson Luis de Sena/Portal Vividense

Crédito: Jeferson Luis de Sena/Portal Vividense

Neste domingo (22), o Portal Vividense inicia uma série de reportagens sobre a área rural de Coronel Vivida. As matérias serão mensais e a cada mês uma comunidade diferente será apresentada.

A primeira da série é Abundância. Devido à pandemia de Covid-19, que assola o mundo todo, infelizmente não foi possível conversar com mais famílias da região.

Com certeza, muitas outras histórias poderiam ter sido contadas pelas demais famílias pioneiras de Abundância, que segundo relatos foram Bertotti, Cozer, Vargas, Fistarol, Grando, Brancalione, Linhares, Lopes, Palhano, Pizzi, Silveira e Stedile.

Assim, o Portal Vividense pede desculpas àqueles que não foram entrevistados. Oportunidades futuras virão, para que seja enaltecido e valorizado ainda mais o povo trabalhador do interior de Coronel Vivida.

Em breve, quando esse período passar, haverá rodas de chimarrão para contarmos muitos "causos".

Abundância

Uma das comunidades pioneiras de Coronel Vivida [que anteriormente se chamava Barro Preto] é Abundância.

Segundo relatos, a região [situada a 24 quilômetros do Centro] iniciou sua história na década de 1920.

"Uma das primeiras famílias que veio para cá foi a Silveira, no ano de 1922, quando então surgiu a nossa comunidade", relata a professora aposentada, dona Jovilde Bertotti Grando.

Ela reside na região desde os seus dois anos de idade, ou seja, há 65. Sua família [Bertotti] era de Videira (SC) e resolveu se mudar para a comunidade, onde abriu um pequeno comércio. "Nele, meu pai e meu tio vendiam produtos da colônia, como alimentos e tecidos para confecção de roupas".

Segundo dona Jovilde, eles viajavam para Ponta Grossa (PR) e Porto União (SC), com o caminhão carregado com porcos. Ao retornar, traziam os produtos que eram vendidos no armazém. "Eram viagens longas e cansativas, pois a estrada era de chão. Com o passar dos anos, a comunidade foi crescendo, passando a ter farmácia, moinho e serraria".

Quanto à escola, ela não sabe dizer com exatidão quando foi implantada em Abundância. Contudo, afirma que a primeira professora foi Dileta Carlim. Depois a sua irmã, Irene Nunes; e a terceira, Marinha Vieira (Mirica).

"Comecei indo "encostada", que hoje chamam de pré, e tinha o sonho de ser professora. Fui aluna da dona Irene, que sempre me dizia: "você será minha substituta". E assim ocorreu: quando ela foi se aposentar, me procurou para lecionar, profissão que segui durante 25 anos", relembra.

Francimar Grando, presidente da comunidade, e sua mãe, dona Jovilde, professora aposentada (Crédito: Jeferson Luis de Sena)

Pizzi

Seu Levino Pizzi tinha apenas cinco anos quando chegou à comunidade, em 1951, com sua família. "Abundância já recebia esse nome e tinha uma igreja, não dentro da comunidade, mas próxima", relembra ele, que continua morando no local, hoje junto com sua esposa, dona Camila.

Ele afirma que naquele tempo havia outras famílias que moravam nos arredores, "como Silveira, Lopes e Vargas, sendo que algumas hoje já não moram mais aqui, mas essas são as que me recordo".

Seu Levino diz que sua família saiu de Sarandi (RS), em uma viagem que levou cerca de dez dias. "Viemos com um caminhão, que quebrou ao chegar em Coronel Vivida. Assim, para poder levar as coisas da cidade até a Abundância, utilizamos uma carroça. Precisamos de várias e várias viagens, para que pudéssemos trazer todas as coisas do caminhão".

Segundo ele, não havia estrada, apenas um pequeno "carreiro". Depois de um tempo, "começaram a ser feitas estradas a "muque". Meu pai ia lavrar, para que os moradores pudessem fazer as estradas, como forma de pagar os impostos da terra, com trabalho".

Conforme seu Levino, o pai e o tio compraram um terreno na comunidade, com uma casa de chão. Logo após, eles montaram uma serraria no local, começaram a construir casas e a comunidade foi crescendo aos poucos. "Mas o nome da comunidade, igreja, padroeira, tudo isso já existia quando chegamos. Aí então foi construída a igreja dentro da comunidade, permanecendo a mesma padroeira", disse, acrescentando: "Não demorou muito e a região começou a ter bolão, armazém, serraria, escola, farmácia, dentista, enfim, era um celeiro".

Quanto às festas daquela época, seu Levino afirma que em datas, como o Dia de São João, havia romarias e fogueiras. "Eu tinha uns seis anos. Meus irmãos e eu pedíamos aos nossos pais que nos levassem, para que pudéssemos participar. Nunca me esqueço de uma festa na casa do seu Ernesto Silveira, onde tinha fogueira de oito a dez metros de altura, e comíamos leitão, galinha assada. Os adultos cantavam e tocavam violão, enquanto que nós assistíamos".

Seu Levino e dona Camila Pizzi (Crédito: Jeferson Luis de Sena)

Nunes

Seu Altair Nunes de Oliveira tem 71 anos. Natural de Palmas (PR), ele é filho de Artur Nunes de Oliveira e Irene Carli Oliveira [em memória], e se mudou para a Abundância com apenas nove anos de idade com a sua família.

Seu Altair conta que o pai comprou terras na comunidade e a mãe era professora. Ela foi uma das que participaram na construção de escola com melhor estrutura. "Quando viemos morar já tinha uma escola, depois foi derrubada para construção de uma maior".

Dona Irene lecionou para muitas pessoas na comunidade. Inclusive contava aos netos os métodos utilizados para dar aula antigamente, que tinha sistema muito rígido. "Os alunos, que eram mais arteiros, ficavam de joelhos no milho, como castigo; e até vara de marmelo era usada", diz seu Altair.

Ele recorda que, quando chegaram, a comunidade já estava bastante desenvolvida. "Tinha muitas casas, açougue, armazém, bodega, porém, com o tempo, grande parte desse desenvolvimento foi se perdendo, pois os donos foram falecendo e os filhos não dando continuidade".

Mesmo sendo muito novo, seu Altair auxiliava a família nos afazeres da propriedade. Apesar de terem sido tempos difíceis, ele fala com saudosismo, destacando que era melhor do que hoje.

"Hoje trabalhamos, trabalhamos, e, muitas vezes, vira em nada. Antigamente plantávamos e criávamos praticamente tudo, víamos o que fazíamos para o nosso desenvolvimento".

Seu Altair, juntamente com seu filho Adriano e neto Everton, em frente a um dos galpões, que permanecem no mesmo lugar (Crédito: Jeferson Luis de Sena)

Criação

Na propriedade da família havia plantação de arroz, de feijão, entre outros. Contudo, o que ajudou a família prosperar foi a criação de porcos, vendidos em Ponta Grossa (PR). Seu pai fez um "mangueirão", fechado com arame, e buscava os porcos para engordar em Coronel Domingos Soares. Ao longo do tempo, passou para a criação de gado de corte, até chegar à lavoura.

A casa — na qual seu Altair mora hoje com sua esposa, Elena Maciel de Oliveira — era dos seus pais e foi construída no ano de 1971. Passou por reforma, mas mantém a sua essência em madeira, inclusive com o "sótão", que geralmente era utilizado como quarto das crianças. Os galpões também permanecem no mesmo lugar.

Moradores

De acordo com Francimar Grando, filho de dona Jovilde e presidente de Abundância, a comunidade chegou a ter mais de 100 famílias. "Hoje, por sua vez, fica em torno de 50. Dentre elas, algumas das famílias pioneiras, outras delas se mudaram para comunidades vizinhas e algumas resolveram viver no meio urbano".

Ele afirma que o primeiro pavilhão foi construído por volta de 1.960, tendo como padroeira escolhida Nossa Senhora de Aparecida. Antes da pandemia, eram realizadas duas festas por ano. Assim, o que tem mantido o pavilhão e a capela é o dízimo ofertado pelos moradores.

Cooperativa

Ao ser questionado pelo Portal Vividense do que gostariam que tivesse na comunidade, o presidente lembra de importantes recursos conquistados pela comunidade, como posto de saúde [no qual são disponibilizados médicos e dentista]; escolas municipal e estadual, que possibilitam aos moradores estudarem até o Ensino Médio; e asfalto em toda a comunidade.

"Única coisa que sentimos falta é de uma cooperativa para entrega dos nossos produtos, oriundos de nossas propriedades", observa Francimar, acrescentando que nos tempos atuais, infelizmente, são poucos os jovens que ainda permanecem no campo. "A maioria sai para morar ou trabalhar fora, e os que permanecem são aqueles que dão continuidade ao trabalho dos pais".

Atualmente, a comunidade possui escolas Municipal e Estadual — em estruturas individuais —; unidade básica de saúde; asfalto; além de uma bela capela e pavilhão.

Família do seu Altair Nunes de Oliveira (Crédito: Jeferson Luis de Sena)

Capela e igreja da comunidade (Crédito: Jeferson Luis de Sena)

A comunidade é uma das primeiras de Coronel Vivida (Crédito: Jeferson Luis de Sena)