O ensino de educação ambiental nas escolas é essencial para a compreensão dos desastres climáticos como acontecimentos socioambientais – ou seja, agravados pelo processo de urbanização. A professora do IB e orientadora da pesquisa, Rosana Silva, afirma que esse entendimento torna-se importante no combate às injustiças ambientais.
"Não dá para culparmos a chuva e o vento. É preciso entender que existe toda uma construção social que faz com que a sociedade empurre populações mais vulneráveis para regiões de maior problema ambiental", afirma Rosana Silva.
No início deste ano, o município de São Sebastião, localizado no Litoral Norte de São Paulo, foi atingido por chuvas torrenciais que apresentaram uma precipitação de 683 milímetros (mm). Consideradas as maiores registradas na história do País, as chuvas ocasionaram uma série de deslizamentos de terra, que resultaram na morte de 64 pessoas e milhares de desabrigados. De acordo com o Cemaden, informações sobre a iminência de um desastre na localidade foram fornecidas ao governo do Estado e à Prefeitura com 48 horas de antecedência. Contudo, moradores alegam que não receberam notificações por parte da Defesa Civil e que não foram orientados a evacuar suas residências, mesmo diante das ameaças de deslizamentos.
Muitos bairros da cidade se localizavam em encostas e eram classificados como áreas de risco – classificação atribuída a locais mais suscetíveis a desmoronamentos. Atualmente, estima-se que 3,5 mil famílias ainda vivam em áreas de risco em São Sebastião. No Brasil, 3,9 milhões de pessoas têm suas residências nessas regiões.
"Esse conhecimento do dia a dia é muito importante. As pessoas que estão sobre esse constantes riscos precisam identificar os potenciais indicadores desses riscos. Saber que se a água chegar naquela calçada, eu já tenho que ficar alerta porque pode entrar na minha casa", afirma Matsuo. A pesquisadora reforça o papel das escolas na construção de conhecimentos de prevenção e redução de danos que precisam ser incorporados na gestão governamental dos riscos e nas políticas públicas.
A tese também deu origem ao livro Muito além da chuva: práticas educativas na era dos desastres, editado pela Associação Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança (RISCOS), ligada à Universidade de Coimbra, Portugal – instituição onde a pesquisadora realizou seu doutorado-sanduíche entre 2021 e 2022. O material pode ser acessado gratuitamente no site da instituição.
A pesquisadora participará do ciclo de seminários comemorativos dos 50 anos do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências (Piec) da USP com a palestra Muito além da pós-graduação: de educadora para pesquisadora e escritora, onde falará sobre sua tese. O evento aconteceu no dia 12 de setembro, no Auditório Adma Jafet do Instituto de Física (IF) da USP.
*Estagiária, sob supervisão de Fabiana Mariz