Na terça-feira (18), o governo do Estado se reuniu de forma virtual com prefeitos e representantes dos municípios de todas as regiões do Paraná para debater a aplicação das medidas sanitárias e de prevenção previstas no Protocolo de Retorno às Aulas, elaborado pela Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (Seed).
Apesar de o retorno ainda não ter data definida para acontecer, o governo já começou a discussão sobre o assunto, e afirma que a volta às aulas presenciais depende da avaliação da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), com base no avanço ou não da pandemia de coronavírus no Estado.
Na reunião, os prefeitos relataram as principais preocupações e desafios de cada região para que o protocolo seja cumprido. Segundo eles, o grande desafio é a realidade econômica de cada cidade. Com a queda da arrecadação de muitos municípios e a necessidade de aquisição de insumos para a volta segura, muitos prefeitos demonstraram preocupações quanto ao retorno.
De acordo com o diretor-geral da Seed, Gláucio Dias, a previsão é de um retorno híbrido, que atenda parte dos alunos em aulas online e parte presencial, escalonado por faixa etária e regionalizado. O retorno poderá ocorrer em tempos diferentes dependendo da situação de cada região.
Pesquisa
O Instituto de Pesquisas RadarInteligência, de Francisco Beltrão, fez um levantamento nas regiões do Estado sobre o impacto do coronavírus na educação que apontou que apesar da insatisfação com o nível de ensino adquirido com as aulas de forma remota (aulas online), os paranaenses são contra o retorno das aulas presenciais, suspensas desde o dia 20 de março.
A pesquisa de opinião pública, realizada de 6 a 13 de agosto em 49 municípios, divididos em 11 mesorregiões, totalizando 1.200 entrevistas, apontou que a avaliação da educação das crianças durante a pandemia é vista como regular por 31% dos entrevistados, ruim ou péssima para 26%, boa para 21% e ótima para 6%, 16% não souberam responder.
Prejuízos
O levantamento mostra que 82% dos entrevistados acreditam que a educação das crianças foi prejudicada com a suspensão das aulas presenciais, sendo o método presencial de ensino, apontado como o mais eficaz para a maioria dos paranaenses, 77%.
Ao avaliar a percepção de prejuízo de aprendizado com o ensino online, os entrevistados demonstram descontentamento, já que 64% disseram que o ensino está pior, 21% estar igual e apenas 3% estar melhor, cerca de 13% não souberam avaliar.
Contra o retorno
Porém, apesar da notável insatisfação com o nível de aprendizado, os entrevistados são contra o retorno das aulas presenciais, visto que para a grande maioria, 77%, as crianças não estarão seguras com o retorno das aulas presenciais. Apenas 14% dos entrevistados acreditam que elas estarão seguras.
Analisando a pesquisa, fica evidente a preocupação com a integridade física e aprendizado das crianças, pois a melhor alternativa para o momento são apontadas as aulas de maneira remota, com 43%, ou o cancelamento do ano letivo, com 38%. Apenas 10% querem o retorno das aulas presenciais.
Estudantes temem retorno precoce por medo de contágio
A reportagem do Diário do Sudoeste conversou com alunos do Ensino Médio, de escolas públicas de Pato Branco, para saber o que pensam sobre o retorno das aulas presenciais.
Os estudantes responderam as perguntas "Você acredita que as aulas presenciais devem iniciar logo, mesmo sem a vacina e sem o fim da pandemia?" e "Você considera o ambiente escolar seguro, mesmo com medidas de segurança adotadas pelos órgãos de saúde?"
Não é o momento
A aluna B.F, 18 anos, disse que acredita que ainda não seja o momento certo. "Tem várias questões que envolvem essa questão, tanto a saúde mental, física, social e emocional, vai além dos cuidados diários e muito mais que álcool em gel e máscara. Nada será 100% seguro diante de uma pandemia. Mesmo que todos tentem, sempre haverá um contato com outra pessoa, mesmo com todo cuidados e nós que estamos sempre no ambiente sabemos que não é e nem será seguro em um momento como esse".
O perigo são os assintomáticos
A estudante V.O.F, 17 anos, respondeu que "ao colocar pessoas em circulação em um determinado espaço torna-se um ambiente suscetível para a proliferação do vírus, uma vez que podem existir pessoas assintomáticas naquele meio de convívio trazendo risco a todos. O Brasil está com mais de 110 mil mortes de Covid-19 e essa curva não está reduzindo. Em Pato Branco os casos só aumentam, cerca de 600 já registrados. A única maneira de evitar a transmissão é através do isolamento social, uma forma segura e eficaz contra o coronavírus. Não há garantia alguma de que métodos de segurança evitarão que os alunos, professores e funcionários adquiram o Covid-19".
Vulneráveis ao vírus
O aluno E. K, 17 anos, disse que entende claramente que não se deve retornar ainda. "Os alunos ficariam vulneráveis ao vírus. Considero um risco, porque mesmo tendo medidas seguras, há chances de contaminação. Então, seria melhor continuar o afastamento do ambiente escolar até o fim da pandemia".
Mais ansiedade para os pais
A estudante K.K, 16 anos, afirmou que acredita que as escolas não estão preparadas para lidar com tudo o que pode ocorrer. "Já vemos que os comércios da cidade não estão preparados, imagine várias crianças e adolescentes se reencontrando. Muitos tem opiniões contrárias sobre a pandemia e isso pode gerar quebra de regras intituladas pela escola, o que geraria contaminação e novamente a parada das aulas presenciais. Tenho plena consciência da dificuldade que muitas famílias estão passando, mas não concordo em gerar uma ansiedade ainda maior para os pais".
Familiares em grupos de risco
A aluna J.V, 16 anos, também acredita que pode haver alunos que não respeitarão as regras. "Muitos têm familiares em grupos de risco e não vão ir para a escola nesse momento. Acho que não seria nada seguro. Só com as medidas de segurança não vai adiantar, pois temos na escola contato com muitas pessoas que vêm de vários lugares da cidade".
Tanta aglomeração será um desafio
A estudante J.K, 16 anos, também teme pelo retorno precoce das aulas. "A curva da doença cresceu muito com o retorno do funcionamento de estabelecimentos (retorno ao trabalho). Enquanto não houver vacina, não considero seguro crianças e adolescentes saírem de casa todos os dias e frequentarem as salas de aula, que tem em média 40, 50 alunos, sendo que em caso de contágio, transmitiriam o vírus para familiares, o que viraria um caos. Por mais rígidas que sejam as medidas, algumas crianças e adolescentes não têm tanto cuidado. Nem todos farão tudo que é recomendável. Além do fato que manter tantas pessoas sem aglomerações torna-se muito desafiador, por maior que seja o espaço de uma sala de aula ou escola".
Cristina Vargas/Diário do Sudoeste